No alto daquele apartamento pensei em você.
Pensei em me jogar.
Me perder em meio ao vento,
com o ar batendo em meu rosto.
Me misturar em meio ao som das nuvens
Você.
Voar.
Estou na rua.
Abro uma garrafa de vinho barato.
Sinto saudades, uma dor no peito.
É outono.
Não vi aquela tarde cinza passar.
O vinho me tem um gosto amargo.
Não ligo.
Continuo a andar.
Acendo um cigarro.
Ao primeiro trago a fumaça me invade o corpo.
Alívio.
Estou em uma cidade desconhecida,
completamente só,
cercado por meus pensamentos,
as minhas lembranças, a minha saudade.
A muito tempo eu perdi a minha infância.
Infância.
Tempo de não se pensar em nada,
tempo em que os dias eram compridos e um pouco mais coloridos.
As crianças são sinceras.
As pessoas precisam ser sinceras.
Precisam voltar a ser crianças.
O gosto do vinho é amargo.
Minha vista começa a embaçar.
Milhões de pensamentos me vem a mente.
...
Lá fora, do outro lado dessa parede envidraçada,
o vento sopra forte.
São 19:38.
Há uma garota no banco ao lado dormindo.
Eu só queria estar lá fora nesse momento,
e poder andar livre.
Eu queria poder voar.